Nada lhe era pelas noites ou pelos
dias, apenas as palavras viradas para um adentro, um lá muito fundo
adentro e baixo, onde aconteciam tubarões e madrugadas, vulcões e
unhas roídas. Os seus diários mais deviam ser chamados noitários,
pelas horas, pelas palavras, pelas zonas obscuras que emergiam entre
as linhas deles. Ou então certidões de óbito muito adiantadas.
Pouco mais sabia do que da morte e o sangue. O olhar era turvo, os
cabelos desleixados caíam sobre os olhos e era aí que as mãos se
levantavam num espavento inconformado, os olhos piscavam como
lanternas fracas no nevoeiro. Ela, sentada perante as páginas
brancas, perante o vazio que dela exigia mais e mais. A página
branca era não um convite, mas uma imperiosa ordem de vazamento.
Tudo nela era ela, espiral centrípeta, golo que engole o próprio
sangue, o cuspe, submersa num gosto salgado de mar reduzido em
fervuras sucessivas, amargo e denso.
Sem comentários:
Enviar um comentário