Para a Alva
Há as retomas.
Os silêncios, as ossadas escavadas no antigo templo dos adeuses calados.
Não há disposição para as perdas, mais.
Acontece que ser surda é descer pelas veias azuis do que não temos.
Esquecer o agora, essa tristeza. Essa raiva.
Ás vezes, eu sei, nada tem a ver o que digo com as minhas mãos que escrevem.
Não vivo a hora de caminhar pelos longos vales desérticos.
A viagem ainda não começou porque não me dei ao luxo do presente.
Mas hoje foi uma história para crianças e um beijo.
Um copo de leite. Um filme. Umas pipocas.
Houve um ontem longe
em que tu eras as pipocas, as histórias, os copos de leite.
É o tempo, está na hora de servir o hoje.
Canto enquanto se cozinha o jantar.
Desenho com os pés o caminho do sal no prato.
Junto-me a eles, e há risos, palavras.
E digo:
Quem me vai puxar das orelhas amanhã.
Vai ser um dia mais longo sem lenços,
sem cabelos, sem brigas, sem risos que estoiram.
Mas hoje foi à mesa, e agradecer.
Nada nos falta nem nos sobra,
E há o orgulho humano de um dia longínquo
teres crescido pelas minhas visceras.
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