A Chávena de Humanidade


O Cháismo é um culto baseado na adoração do que é belo entre os factos sórdidos da existência diária. (...) É uma tentativa terna de atingir algo possível nesta coisa impossível a que chamamos vida.

El teísmo es un culto basado en la adoración de lo que es bello entre los hechos sórdidos de la existencia diaria. (...) Es un intento tierno de alcanzar algo posible en esta cosa imposible a la que llamamos vida.

Kakuzo Okakura

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

La sembradora de piedras

Me llaman la sembradora de piedras

Porque intenté resucitar
Granitos
Mármoles
Con agua
Palabras
Lunas fieras

Hoy sé que
Era simple incomprensión

Las piedras ya están vivas
Y el problema era que yo
Desconocía su lenguaje
De opacidad y espera

Hoy yo también soy casi roca
Transito
A un viejo mundo
De silencio y clareza

Mañana.

Mañana cerraré los ojos
Y por fin seré un cuarzo
Una playa
Una sólida forma
De certeza

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Odoiyá

Quando criança
Eu sei que você
Me cuidava escondida por trás daquelas ondas
Gigantes
Quietas
Ameaçadoras

Eu tenho certeza que você
Segurava aquelas águas
Que me deixavam paralisada
À beira da praia
No pesadelo mais longo, mudo e repetido de todo o meu sempre

Me perdoe,
Eu era tão criança
Que nem sabia que você existia

E no entanto
Você existia mesmo
E existia, de certo jeito,
Para mim.

Você existia na minha cor favorita
Tão favorita que era inútil me oferecer lápis de cor ou caneta
Se não fosse jogo de 36
(Para quem não sabe, a cor do mar só tinha em estojos de 36).

Você existia nos golfinhos de Menduinha
Que eu esperava horas para ver passar
Ao longe no lusco-fusco

Você existia em tanta coisa,
Existia na voz da minha avó,
Que era forte e amorosa
E tinha ficado sem marido.

Você existia no jeito como eu olhava
Para os mapas de África
Decorando uma e outra vez
Nomes de países, capitais, rios

Você existia nos meus dentes separados,
Nos meus seios que viriam a ser grandes
Nas minhas mãos compridas
Nos meus brincos de prata
Nos meus caracóis impostados

Mas você existia, sobretudo,
Nos meus sonhos

Porque em criança,
Quem sabe o porquê
Eu só queria desenhar praias,
Para poder estender o verde-azul do mar
Até o limite do céu
E do papel

Hoje não sou mais crianca
Aprendi que você existe
Me protege, me guarda

Por isso hoje esqueço
Lápis, golfinho, maremoto,
E grito

Odoiyá, Iemanjá!

Odoiyá!