fala, amor,
como eu te beije? na dança
das serpentes, no riso? e os meus lábios, por
onde entrem? pelos cais dos sussurros, por qual dos seis sentidos? hei de beijar-te o riso na dança da
serpente? meu corpo acordado, e meus
dedos longos, que façam? remos da piroga que te sulque, caules de um
bouquet de flores? povo na terra tua generosa? no baixo equador dos meus
lábios navegáveis, por ti em barco ou piroga ou nu e a nado? e a minha língua, onde aporte? nas
Índias dos teus temperos? na proa do teu corpo em caravela? posso prevenir-te das
vagas que talvez te acendam as velas e as delícias? das cavalgadas
onde sejas os meus pés na tua terra? naquela terra onde eu sou
criatura de fruto efémero e boca dormente, onde te guardarei a
colheita? no colo das coxas, na poça da fronte? nas
borboletas, porque nas asas delas voam as
palavras escondidas? nos desejos
guardados na saliva, as línguas de espiral despregáveis até o
fundo das entranhas minhas? ou nos prados das
línguas, sumos de cereja, portas entreabertas quando te aproximas,
por onde te espraias nos sentidos a cavalo? nas horas
extensas, nos
minutos, nos fogos-de-artifício, os mares
ou os rios?
fala, amor,
de entre
todas as palavas e os segredos, com quais devo conduzir-te à
rendição: pólen, cerne, mastro, vento?
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