olhar para cima à procura do pé que foi, da luz que fugiu atrás do horizonte, o hálito e a escada branca, a beleza na estratégia do caracol, as cores verdes ou azuis em que um homem vê o rosto de uma mulher que ama, os corredores, as portas, os tetos que coroam os corpos à noite, os quartos onde apesar da luz acontecem histórias verosímeis, onde as vagas da vida se dissipam como o lusco-fusco, madeixas de sol pelas janelas, madeiras que deixam pegadas nos nossos pés como no fundo dos olhos, das mãos que tocam e não acreditam; e as flores, os lugares, a razão do antigo, os azulejos depositários das mãos tão amadas que é para ficar a viver nelas, a vida que sobe e desce, e volta, a torre sem marfim que sonha dentes brancos, os cabelos compridos que lá foram secos pelo sol na varanda, a água, o murmúrio das estações que passam, tanta terra atrás dos vidros partidos pelo vento, tanto amor em cada canto, tanta beleza para beber, tanto sangue para se ter, tanto olho para ver.
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