leilão das vozes, venda dos afetos. queríamos um pano para o pescoço, por isso viramos corda. não foi fácil esquecer janelas, montes. andávamos pelas beiras poucamente vestidos de gente que amava. sentíamos bocas a chamar, mas as muralhas eram altas, os disparos curtos. sabíamos que as semanas são frutos perecíveis, que os pássaros voam longe e com eles levam as mensagens: quando voltam, estão mudados e não lhes conhecemos mais os bicos, as penas. agora é inverno e o sol é uma bolinha ao pé de nós. agora é procurar nas palhas letra, cor que faltou, teia que sobrou, lembrança. taimado colo onde embalar-se cada tarde a cultivar pérolas do serão colorido e calmo, do chá, da varanda, da solidão sonora.
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