chegam as horas em que me deixo encantar pelas barbadas algas da memória. chega o musgo das veredas que povoei sozinha, estourada pela cegueira. chega a coluna vertebral feita em estilhaços de sonho, em olhares agudos sobre as mãos que não sabem mais o que entregar à ira do deus que me comanda. chega a tinta da china derramada sobre o deserto dos afetos, a carregada chuva, a ida da mornura pelas termas do sangue. chega a sábia descida dos canhões secos, doentes de terras desérticas, semeados de monstros antigos, de elfos desenraizados. chega o cúmulo de vozes em grito empilhadas no esterno, chega a vida, chega de estátuas de sal: no céu que resta há caminhos e vales, e há a razão de os deuses nos terem colocado os olhos na face, e não na nuca.
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