catorze anos não cabem num poema.
é preciso destrançar o cabelo que não existe mais.
desentupir as canalizações do coração para dar passo
a um sangue vermelho como os cravos de abril.
é de noite e penteio as estradas de montanha, os rios, as casas
que fizemos em dias antigos como deuses lagarto.
odiar-nos seria deixar um pedaço de nós descaído, desmanchado,
uma pedra, ou o silício entre os dentes com que rimos ainda hoje.
tudo o que foi habita-nos, entre tudo: os números, o riso, o absurdo.
hoje há pernas, braços, cabeças a percorrer o mundo depois de nós.
calcorreamos os trilhos da dialética e perdemos o amor numa adversativa.
afinal, a loucura é uma forma extrema de coerência interna.
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