as notas, o sumo do violoncelo a escorregar pelos ouvidos prontos.
era tanta a matemática, tão perfeita, que os corações não nos aguentaram as mãos.
acenei uma retirada lenta, os teus dedos esticavam como pastilhas.
colavam-se-me às costelas, eram carne e não havia osso.
bastou uma flor sem jeito nem cheiro para dizer adeus ou coisa que valha.
a vida gira, não é possível devolver os presentes
porque eles não habitam nas estantes, mas na memória dos olhares.
tu eras a montanha mágica, habitada por números e proporções.
eu era pequena, por isso cresci pelas teclas dos pianos,
pelos trilhos de Berlioz até ao âmago de Bartok.
não éramos corpos mas instrumentos,
havia um céu, um véu, palavras, silêncios,
oblíquos nomes que habitamos à procura da serpente.
houve músicas, letras, delicadas iluminuras.
os ventres povoam-nos com a dança da voraz-idade.
as letras procuraram-nos outras vias. o eterno fogo que queimava,
as ilhas do vácuo, as alturas de onde atiramos os nossos lenços.
tudo numa dança nua, perfeita e íngreme como uma falésia,
de coração ao céu, de cabeça ao chão, de caminho ao adeus.
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