Volto à varanda. No rodapé habitam escondidas
palavras que partilhamos um dia. Palavras que talvez fiquem a morrer
aqui, lembradas dos lábios que as proferiram e não são mais. Talvez
palavras que caíram das folhas que manuseávamos como agora cai a noite
húmida sobre a erva lá fora. A última noite, que anuncia um tempo novo.
Oiço os grilos, as rãs. O verão esplêndido vai-se em dias e fogo.
Enquanto isso, passa uma locomotiva que aperta o passo para levantar o
tempo que nos afastou. Ao longe, o choro de uma criança, o latido de um
cão. Gosto de pensar que sabem de nós. Ou então: do vazio. Os animais
entendem de passados. Aqui, nesta varanda, nós fomos nós. Aqui a tarde
era morna e lembrava vozes e músicas. Aqui conjugámos um dia verbos em
presente, e advérbios sem tempo como 'agora' ou 'enquanto'. Sei que as
músicas nunca mais vão tocar assim. As músicas são como as uvas, devem
ser colhidas quando a estação acaba. Como o outono, o longe está para
chegar. Como o dia, está tudo por nascer, por compreender. Como a noite
de hoje na varanda, sei que este é o último poema.
A Chávena de Humanidade
O Cháismo é um culto baseado na adoração do que é belo entre os factos sórdidos da existência diária. (...) É uma tentativa terna de atingir algo possível nesta coisa impossível a que chamamos vida.
El teísmo es un culto basado en la adoración de lo que es bello entre los hechos sórdidos de la existencia diaria. (...) Es un intento tierno de alcanzar algo posible en esta cosa imposible a la que llamamos vida.
Kakuzo Okakura
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