Sabes, poeta,
Por
vezes eu fico a pensar e ocorrem-me as palavras gastas pela rua.
Algumas vezes fico muito triste: vejo nelas os rasgões que outrora lhes
fizemos, vejo as palavras mapeadas de cicatrizes, e as minhas mãos
tremem como as de um carrasco arrependido.
Sabes, poeta, acordo de manhã e acontece uma palavra como "casa" ou "quarto", ou "rua", e todas elas falam de nós. Acontece a palavra "voo" e ela fala de nós. Acontece a palavra "silêncio", e ela fala de nós.
Mas sabes, poeta, cada vez mais fico a pensar nas palavras por gastar. Fico a pensar que "Sena" será para nós uma palavra cheia, como as telas de Redon. Fico a pensar em "voo" e oiço o som das nossas asas a bater antes de o sol sair. Fico a pensar que houve um dia de palavras onde os corpos nem eram chamados a existir, e foi leve. Um dia em que fazia sol, ou chuva, ou sonhos ensolarados numa casa térrea.
Sabes, poeta, a vida é um ciclo de morte e renascença, e é imprescindível lavar as palavras no rio antes de regurgitar o verbo da génese de novo. Não que queira voltar aos dias passados, às palavras escondidas nas pedras da calçada. Ou seguir trilhos mascados, nada disso. Antes quero regressar ao cheiro dos livros na varanda. Sentir que posso sentar ao teu lado, poeta, e abrir um livro numa página qualquer, e ler para ti em voz alta, e sentirmos, falarmos.
Sabes, poeta, acordo de manhã e acontece uma palavra como "casa" ou "quarto", ou "rua", e todas elas falam de nós. Acontece a palavra "voo" e ela fala de nós. Acontece a palavra "silêncio", e ela fala de nós.
Mas sabes, poeta, cada vez mais fico a pensar nas palavras por gastar. Fico a pensar que "Sena" será para nós uma palavra cheia, como as telas de Redon. Fico a pensar em "voo" e oiço o som das nossas asas a bater antes de o sol sair. Fico a pensar que houve um dia de palavras onde os corpos nem eram chamados a existir, e foi leve. Um dia em que fazia sol, ou chuva, ou sonhos ensolarados numa casa térrea.
Sabes, poeta, a vida é um ciclo de morte e renascença, e é imprescindível lavar as palavras no rio antes de regurgitar o verbo da génese de novo. Não que queira voltar aos dias passados, às palavras escondidas nas pedras da calçada. Ou seguir trilhos mascados, nada disso. Antes quero regressar ao cheiro dos livros na varanda. Sentir que posso sentar ao teu lado, poeta, e abrir um livro numa página qualquer, e ler para ti em voz alta, e sentirmos, falarmos.
Sabes, poeta, eu já não tenho varanda, tenho só uma marquise redonda e tenho sonhos
que, como ela, circulares, aspiram a construir qualquer coisa parecida
com a perfeição.
Sabes, poeta, eu já não tenho varanda, mas tenho olhos para olhar para o horizonte.
Sabes, poeta, eu já não tenho varanda, mas tenho olhos para olhar para o horizonte.
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