quando eu era o vento. aquele dia. aquelas folhas em
bronze entre os olhos que se escondiam. quando eu era o vento, e zunia
os silêncios. e pela boca me saíam borbulhas de tempo onde passeávamos,
como porquinhos-da-índia em rodas ilusórias. quando eu era o vento, e as
borbulhas espocavam, e nunca mais havia passeio de sabão.
quando tu tomavas as noites como tobogã e nós ríamos porque a madrugada não demorava e o dia não nos esperava. quando havia palavras como amanhã que soavam a junto. quando tínhamos pernas confusas, mãos que equivocavam carícias em palavras e notas musicais. quando não eram precisos bilhetes porque as línguas estavam sempre prontas e adeus não era uma palavra plausível.
quando eu era as noites com brisa e não acordávamos e os corpos não sabiam onde andavam. quando tu eras nuvem e guardavas a água para o verão porque nada havia senão luz e areia entre nós. quando todas as noites, sem descanso, dormíamos porque não havia nada a fazer senão encontrar-nos no sonho e passear versos entre as cores de Redon.
quando o algarve eram férias e as passas natal. quando tomávamos banho de verbo porque assim caíam mais claras as gotas do orvalho no atributo das nossas cópulas dormidas. quando éramos, e havia uma segunda para cavar, um domingo para colher.
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