Há dias em que poderíamos amar
qualquer um. Um caracol que aparecesse na janela, uma pedra da praia,
uma erva seca, um grilo mudo.
Há dias em que fosse alguém
trazer-nos um livro e ficávamos a olhar como se fosse a anunciação
ou o portador do nosso obituário.
Há dias em que tudo serve para deitar
o corpo ao orvalho, às margens da sombra.
Há dias de lusco-fusco e velas de
barco em vento fraco, à contra-mão do orgulho de ontem.
Há dias de magoar pessoas e não saber
mais como procurar a praia.
Há dias em que os sais se tornam
maquilhagem das feridas mas mesmo assim tomamos banho no mar e é
bom.
Há dias em que há quatro sóis e dois
satélites ao dispor dos nossos olhos, mas nós ficamos a olhar para
a lua porque é tão redonda e escondida.
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