voávamos
na forma de fumo de lumes antigos
e entradeceres por chegar
quanto nos recusamos para hoje ter tanto para dar
para ouvir
somos a sombra alegre de um quase
uma letra por desenhar
o primeiro traço de um pictograma
que abre todas as possiblidades do espaço
somos o hexagrama do balde
o vazio que espera
apenas dá forma ao que chega
quatro mãos que desenham um aconchego
de palavras adiadas
atravessávamos o mar na altura certa
mas depois comíamos algas
como animais marinhos nos procurávamos nas profundezas
do outro
foi aí que esquecemos que o sol ficava longe
foi aí que nos tornámos lulas
foi aí que a nossa língua tentacular e mole
se desfez em distâncias e silêncios
borbulhas que subiam em direção à luz
que não enxergávamos
mergulhar é que nos fez fortes
encheu-nos os pulmões da verdade por onde transitamos hoje
e assim na distância somos próximos como irmãos
disponíveis como amantes
francos como a língua que falamos
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