A Chávena de Humanidade


O Cháismo é um culto baseado na adoração do que é belo entre os factos sórdidos da existência diária. (...) É uma tentativa terna de atingir algo possível nesta coisa impossível a que chamamos vida.

El teísmo es un culto basado en la adoración de lo que es bello entre los hechos sórdidos de la existencia diaria. (...) Es un intento tierno de alcanzar algo posible en esta cosa imposible a la que llamamos vida.

Kakuzo Okakura

sábado, 30 de novembro de 2013

The end

Tudo o que começa, termina.
Há coisas urgentes, e falta o tempo para elas.
A poesia é uma, mas talvez doutra maneira.
Talvez nunca mais; talvez amanhã.
Talvez o agora morra para sempre
e renasça noutro lar.




quarta-feira, 27 de novembro de 2013

quando me dizes

quando me dizes "mulher"
há tempo que afastaste de mim o
ser amante

quando me dizes "preto"
há tempo que o teu coração
é baço

quando me dizes "carne"
há tempo que o meu coração
não bate

quando me dizes "peixe"
há tempo que esqueces que o meu corpo
também sente

domingo, 17 de novembro de 2013

viajamos

viajamos al punto exacto de retorno
lo que ha de ser nos encara y asumimos que
todo y nada es una misma cosa
no un río o una montaña
sino un ojo que no distingue
el agua de la tierra
excepto para atravesarlas
cada una en su textura y grado

viajamos desde donde aún no hemos sido
atravesamos la luz como el tráfico
como si nada hubiera sido
exhaustos nos levantamos descansados
leves con el peso del trabajo terminado
a nuestra medida y sin recuerdos

regresamos cada noche al otro lado de la cinta
paseando nuestros ojos cerrados
ensoñando lo que puede y debe
repitiendo una y mil veces una palabra franca
pero dura y cortante como la paz o el cielo

nos sentamos sobre la verdad que hemos ocultado
porque su calor nos agarra al futuro que viene
y así seguimos la senda del guerrero
entre los dientes un cuchillo, flor en mano
bastón entre los dedos callosos pero blancos

nos alejamos de lo que no será de nuevo
hemos repuesto las piedras del camino
no hay rastro en nuestras manos del dolor
mientras callamos secretamente la alegría
de ver salir el sol y cabalgar despiertos
sobre el lomo blanco del dragón

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

ruas

rica em lábios como a branca de pedra
corro pela cidade com as vestes levantadas

não me contes que foste à praia
o nosso plano era a montanha
e as árvores estão frias

corro pela cidade enlouquecida
as cores que uso escondem a vontade
de ficar sentada às tardes

é tudo tão simples e tão difícil
mergulho nas pedras da calçada
nas montras onde creio ver-te

sussurro palavras fechadas como pétalas à noite
ninguém entende o linguajar do pólen descansado
a não ser nós - estratosféricos

corro pelas ruas - insisto em bater os pés descalços
sorrio às pessoas que não entendem o meu passo
acham que dança é repetição; não concordo

sigo em frente sem parar e não estás
rio, conto-me esta história como sempre
invento a tua nuca os teus pés

os meus olhos não precisam da presença
as ruas foram sempre, comigo, acolhedoras
e os espelhos amigos generosos


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

deixar

atrever-se a ficar
como o mel entre os dedos

ficar no campo de batalha
e de riso em riste

ouvindo cada inseto
sentindo cada cheiro

atrever-se a ficar
entre os corpos sedentos

e não beber nem amamentar
almas desdentadas pelo ódio

ficar nu perante os olhos olbíquos
que não atingem a verdade

deixar os outros ficarem com o corpo
a ossada com que se diverte o senhor obscuro

que habita todo o corpo que o engorda
inclusivamente o teu quando o alimentas

deixar os outros dançar com a casca
como se nada fosse, mesmo nada

deixar os outros acreditar que é verdade
que estão mesmo a brincar contigo