A Chávena de Humanidade


O Cháismo é um culto baseado na adoração do que é belo entre os factos sórdidos da existência diária. (...) É uma tentativa terna de atingir algo possível nesta coisa impossível a que chamamos vida.

El teísmo es un culto basado en la adoración de lo que es bello entre los hechos sórdidos de la existencia diaria. (...) Es un intento tierno de alcanzar algo posible en esta cosa imposible a la que llamamos vida.

Kakuzo Okakura

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

quando era


quando eu era o vento. aquele dia. aquelas folhas em bronze entre os olhos que se escondiam. quando eu era o vento, e zunia os silêncios. e pela boca me saíam borbulhas de tempo onde passeávamos, como porquinhos-da-índia em rodas ilusórias. quando eu era o vento, e as borbulhas espocavam, e nunca mais havia passeio de sabão.

quando tu tomavas as noites como tobogã e nós ríamos porque a madrugada não demorava e o dia não nos esperava. quando havia palavras como amanhã que soavam a junto. quando tínhamos pernas confusas, mãos que equivocavam carícias em palavras e notas musicais. quando não eram precisos bilhetes porque as línguas estavam sempre prontas e adeus não era uma palavra plausível. 

quando eu era as noites com brisa e não acordávamos e os corpos não sabiam onde andavam. quando tu eras nuvem e guardavas a água para o verão porque nada havia senão luz e areia entre nós. quando todas as noites, sem descanso, dormíamos porque não havia nada a fazer senão encontrar-nos no sonho e passear versos entre as cores de Redon.

quando o algarve eram férias e as passas natal. quando tomávamos banho de verbo porque assim caíam mais claras as gotas do orvalho no atributo das nossas cópulas dormidas. quando éramos, e havia uma segunda para cavar, um domingo para colher.

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