A Chávena de Humanidade


O Cháismo é um culto baseado na adoração do que é belo entre os factos sórdidos da existência diária. (...) É uma tentativa terna de atingir algo possível nesta coisa impossível a que chamamos vida.

El teísmo es un culto basado en la adoración de lo que es bello entre los hechos sórdidos de la existencia diaria. (...) Es un intento tierno de alcanzar algo posible en esta cosa imposible a la que llamamos vida.

Kakuzo Okakura

sábado, 3 de agosto de 2013

Amar um homem

Amar um homem que chora
Que sabe que há fraquezas que nos tornam barcos estilhaçados nos rochedos do outrem
Um homem que bebe sal sentado a uma mesa pequena
De um café pequeno
De uma vila pequena

Um homem que por vezes deixa passar um comboio
Enquanto olha para os seus pés magoados
Amar um homem que sabe que há sofrimento gratuito no mundo
E que por vezes somos nós quem descerramos o punho calado sobre o outro
Porque olhamos para um pé e perdemos o sentido da mão e os olhos
E o coração abafado

Amar um homem que às vezes cala
Quando a rua pede um grito ou uma palavra de quem é viv'alma
Que mergulha no silêncio e a cada borbulha desmente o calor de ontem

Amar um homem que sabe usar as mãos para a beleza 

Embora por vezes desça ao inferno da quietude gélida

Amar um homem que fala por dentro como falam as paredes
Aos fantasmas e às viúvas

Amar um homem que ouve a campainha tocar mas dorme
Virado para um mar que acaba em mim

Mas não me chega por não ser mão dele que os barcos
Aportam ao peirau da minha cama

Amar um homem ao longe
Atravessados de água e falta de tacto
Um homem que contém
Sob as pedras do caráter uma ilha do tesouro
Com cores, pedras e um pirata que a guarda

E mesmo assim amar um homem
À hora do almoço e de madrugada

Sem comentários:

Enviar um comentário