A Chávena de Humanidade


O Cháismo é um culto baseado na adoração do que é belo entre os factos sórdidos da existência diária. (...) É uma tentativa terna de atingir algo possível nesta coisa impossível a que chamamos vida.

El teísmo es un culto basado en la adoración de lo que es bello entre los hechos sórdidos de la existencia diaria. (...) Es un intento tierno de alcanzar algo posible en esta cosa imposible a la que llamamos vida.

Kakuzo Okakura

sexta-feira, 12 de abril de 2013

morte aos prefixos

tornamo-nos fiéis do que nos acontece,
cultuamos o passado pessoal como uma religião.

negamos os deuses quando queremos ser reis,
mas somos apenas crianças mimadas
a querer dobrar os troncos das árvores.

cada instinto que ganhamos nos torna mais afastados da verdade:
entre as nossas células cresce a matriz que nos comanda.

livre é quem desiste de ler, de escrever, de aprender.
livre é quem desiste de colecionar palavras,
quem segue pela chuva sem saber o nome das nuvens,
no rumo das horas, sem acompanhar vontades.
ficar em cama ou saltar, tanto faz,
a trela mora em nós, sob vários nomes:
compulsão à repetição, carácter, eu.

há quem tenha o vício da desconfiança,
há quem tenha o da tristeza.
há ainda quem tenha o vício do ontem.

acreditamos neles quando devíamos fugir, esquecer.
construímos quando devíamos desconversar, desconsistir.
desconseguir ser-se qualquer coisa definida. -ista.
desconverter-nos ao deus do eu a que nos prendemos por vontade própria.

é urgente dar as boas-vindas ao adeus de nós,
esquecer o que dissemos ser,
longe do eu é que nos espera a verdade.

é urgente gastar o nosso latim:
struo, cedo, prendo, scio.
voltar à essência das coisas-sem-nome.
morte aos prefixos,
longa vida ao vácuo e aos olhares.

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