A Chávena de Humanidade


O Cháismo é um culto baseado na adoração do que é belo entre os factos sórdidos da existência diária. (...) É uma tentativa terna de atingir algo possível nesta coisa impossível a que chamamos vida.

El teísmo es un culto basado en la adoración de lo que es bello entre los hechos sórdidos de la existencia diaria. (...) Es un intento tierno de alcanzar algo posible en esta cosa imposible a la que llamamos vida.

Kakuzo Okakura

domingo, 31 de março de 2013

boca del dragón

Se derriten las venas entre la boca del dragón y su flamante lengua.

Cada papila es un horno donde se cocinan nuestras escondidas verdades,
cada deseo inconfesado, cada carencia o búsqueda,
cada hilo que descose nuestra vergüenza.

Escucho los grillos antes de tiempo, anuncian un paseo lejos del ahora,
la última mirada franca que he encontrado.
Le cantan a la veta de la madera que denuncia un año seco.
A la cicatriz en tu piel.

Nos mezclamos porque somos connotados
y sin los opuestos el mundo que conocemos se desmorona.

Nuestro linaje nos ha tornado únicos pero lejanos.
Camino por la playa. No hay arena que no haya sido piedra
antes de ser hoy un instante de placer bajo mis pies.
Es necesario aflojar las vestiduras y cerrar los ojos
para recordar que hace calor o frío
y también hay dedos al final de nuestras piernas.

Cómo nos encerramos entre las rejas, entre las cejas,
en este recóndito punto vacío donde la memoria no tiene sentido
porque no hay ayer o mañana.

Cada cosa que sucede tiene su tiempo hasta que nunca ha sido.
Cada mano que recorre un cuerpo tiene un olor, una memoria,
una medalla colgada al pecho de la belleza.

Nos tenemos mientras huimos,
y así discurren las hojas de nuestro aliento.
Del verde al rojo, al castaño, al humus. También yo creo en él, el humus.
Contiene, como un ojo, todas las posibilidades infinitas del ayer y el mañana.
Sin embargo, es un pequeño hoy cuya mayor prenda es el olor.
El olor a pertenencia, a mordida.
La casa blanca o la ropa lavada, la manzana o la piedra, el té rojo,
saben a humus.
Por eso me encierro entre los dientes y proyecto el olor al cielo de la boca:
Nada de lo que somos es cierto. La división, la cultura, la palabra,
no son más que artefactos que nos alejan de la verdad milenaria,
cantada, breve y tan escondida.

quinta-feira, 28 de março de 2013

alimañas

Desde la mirada blanda del humilde
nada pesa como las intenciones últimas que escondemos en cada silencio.
No es justo pelearse por las sobras de la felicidad, ni digno.
Pero nuestras manos se mueven solas y ajenas a quien las comanda,
y cuentan con los dedos los minutos regalados
mientras esperan su recompensa de esclavas voluntarias.
Porque entre los bosques de la palabra se esconden alimañas,
y tampoco es justo abandonarlas a su suerte.

La salvación no es el don de lo bello, sino la esperanza de luz para lo miserable.

nuestro vacío

Todos descendemos del tiempo de los esclavos.
Elegir no es la cuestión cuando es entre azotes o hambre.
No siempre sabemos contestar que no a nuestro vacío,
por eso las horas oscuras nos devoran las cavernas de la vida,
las francas siluetas con las que nos asustamos a nosotros mismos
ante la posibilidad de encontrar nuestro vacío
y precipitarnos en la verdad que eludimos encarar.

silencio

Silencio.
Pensar no es como descender por las horas frías del día que muere.
Es amanecer con ganas de lluvia torrencial en la ventana
para no ver que más alla hay mar.
Cada lágrima vieja es un paraíso perdido,
un eon invertido en la nada más ciega.
Cada vez que nos sentamos al espejo de lo antiguo
nos olvidamos de cocinar el plato del ahora.
En ese momento, nada ni nadie nos detendrá
en la carrera contra nosotros mismos.

segunda-feira, 25 de março de 2013

excalibur

Só somos amanhã, o hoje não presta, é uma coisa velha.
Como a vida pode ser velha e gasta sem se ter usado quase.

Entre nós os dois há os anos, e assim deve ser.
Dada guerreiro tem seu caminho, cada pedra seu calcanhar de destino.
Cada coisa que nos acontece ou não é uma resposta adiantada.
Tanto que nem fizeste a pergunta e eu já conheço a solução.
Não há lugar para a infância no jogo dos adultos.
Para se ser excalibur é preciso o tempero dos golpes.
O que nos ocupa é o sonho do que poderia ser.
É impossível encontrar a semente se só sonhamos com a flor perfeita.
Tanto que cada pá de carvão que alimenta este comboio afasta a chegada do vale.
Vivemos no paradoxo do amanhã, este presente não existe,
Há tantas pedras por compreender, tantas colinas por subir,
tantas montanhas por descer.

quinta-feira, 14 de março de 2013

não ter noção

belo é não ter noção. e também morto como maquinismo. servem-se por entre os ramos as quedas da fruta velha ao compasso da brisa. sentir água mole pelos braços, mãos a acenarem a caminho do ontem. habita-nos um sol enquanto teimamos em apreciar a luta pela sombra, enquanto saímos e entramos nas ondas secas do deserto, onde a beleza é a ausência da água. como em ti a beleza é o ar quieto. calo-me mas não de silêncio, calo-me de garganta calejada. assim desabam rios pelo queixo, pela substância do ontem mais incrustado, como sal que vence agarrada à rocha. flutuo por sobre a fúria, ou o medo. a doença é a intensidade. a intensidade não é o amor, mas ela própria, essa droga. por isso, belo mesmo, é não ter noção. dormir.

terça-feira, 12 de março de 2013

em vez de voar

transbordar. cada pinga é uma palavra no peso do pulmão que se rende às notas de uma viola, a uma voz que entretece os ossos enquanto demoro as decisões, mais um minuto, mais uma hora, mais um dia. nada me detém no tempo, sou eu que me torno fumo nas horas, para quê esperar, para quem, a não ser para as minhas mãos. nada há entre nós a não ser o ar que nos sacode os cabelos e os beijos longe do que podia ter sido, longe como os barcos, proximo a falésia como farol, perto de queda pelas peles que não se querem afastar mas são longínquas igualmente. perto na procura de um sorriso que não há, nem por sóis, nem por dós, nem por lás. por cá é que me fico entre os dedos contando os minutos do adeus que já nasceu, porque é tudo tão claro, mas os dentes apertam tanto. machucam, serram-se pela noite dentro porque não procuro mas também não deito nada fora. nada que me faça sentir além dos olhos, das pontas dos dedos duras e gastas de tanto rasgar as cordas da vida, as teias das asas com que me deito em vez de voar.

domingo, 10 de março de 2013

time to stop

Anyway.
Termina o que não era para se começar,
e assim é a nora, a dar a dar.

Um cão recebe os carinhos a qualquer hora
mas eu cá sou gata e dona, nada me detém mas eu própria.

Cada hora que passa é um turbilhão de demoras
como manga de água na direção do céu
de onde hão-de cair de volta em chuva breve
ou granizo sobre os vidros do telhado.
Afinal, para voltar à mesma água.

Está na hora de terminar os restos do bolo antigo,
o mesmo bolo dos mesmos domingos na casa dos avós,
ai a tradição, ai a traição. Ai a teima em sobrevoar as estrelas
que são só imitação do brilho que levamos dentro,
como a terra tem seus dois sóis mesmo que não os tenha visto.

Cada espiral que germina é uma breve inauguração de maquinice,
um crescendo na direção daidade
em que seremos apenas um conjunto de movimentos repetidos.

Time to stop. Detenho-me. Recuso-me, recuo-me, à nascença do hoje,
do já, porque não há ontem, não há outrem,
é só nós e a vontade de nascer que interessa, só o que parimos,
só o que nos brota dos pés descalços e a vontade franca,
do ventre vazio, do coração aberto.

sábado, 9 de março de 2013

linguagem

é o olhar o que nos torna unos. não o nosso, partitório, divisivo, infinitésimo até ao absurdo. cair pelo bordo dos cílios e desembocar na corrente, não da água, mas do metal com que escravizamos os outros, os sem voz, os seres de pelúcia com quem brincamos a ser deuses. nunca será suficientemente cedo para a hora do brilho no olhar de um outro ser nascido sem linguagem. calamos por eles enquanto gritamos pelos que têm voz como se nada fosse. como se o nosso estômago agradecesse o sofrimento e a podridão a que nos submetemos. estamos tão distantes. tão esquecidos.

terça-feira, 5 de março de 2013

confiança

confiança. brancas folhas do antigo caindo ao pé de um olhar húmido. caem-nos pelos costados as leves pétalas dos passados e a cada sombra semelhante, a cada palavra, a cada sotaque, o tacto breve da pelúcia antiga nos arrepia os braços, as pernas, as lembranças. algumas flores não cheiram, e por isso são menos belas, e também menos cruéis. o hálito da infância escorrega pelas veias e surpreende-nos em plena rua ou sumidos na tristeza perante um mar calado ou um rio escuro. as pétalas da confiança cheiram a belo  e não morrem, apenas pairam para nos deixarem o sabor da aprendizagem. que qualquer tristeza ou abandono vale a pena um olhar de branco oxidado, um bordo dobrado pelo tempo que passa a caminho de ser terra e de novo pelúcia. qualquer um, e mais quando há sol e o dia é frio mas confiamos na chegada de março.

domingo, 3 de março de 2013

nascença

remeter os órgãos para o lugar do outrem, trocar silêncios a cada batida até bater de frente com a nascença de todos. uma aranha habita-nos as esquinas do sono, tecendo as letras do diálogo interior que nos invade até nos prender na nossa própria teia. a história é teimosa e repete-se a si própria. por isso o maior dos presentes são o outrem e o hoje, para poder nascer sem o coração na boca, sem o cordão umbilical ao pescoço das palavras. é preciso saber nascer antes de tudo, que daí nos vêm os pesadelos e os risos inesperados. é preciso rebentar os braços em mãos e dedos a favor do vento. as velas é que aproveitam a brisa para fazer o caminho, mesmo quando sopra contra. navegar é belo, mais ainda em plena tempestade.